É muito comum os pais das novas gerações ouvirem de pais de gerações passadas (inclusive aqui seus próprios pais, avós, pessoas próximas) a expressão “No meu tempo não era assim…”, até mesmo essa frase é recorrente em nosso próprio pensamento quando nos deparamos com determinadas situações junto às crianças.
No meu tempo não era assim…
Geralmente isso ocorre para fazer uma comparação a forma na qual os filhos são educados hoje frente ao modelo de tempos atrás e esse é um tema bastante complexo, afinal, crescemos ouvindo que devemos aprender com os erros e acertos das gerações passadas e, principalmente, respeitar as suas experiências.
Porém, não podemos deixar de levar em consideração que a criança hoje está inserida em contexto e sociedade distintos daqueles em que seus pais estiveram.
Quando transferimos esse tema para o ambiente escolar, encontramos o mesmo paradoxo.
Sim, nós fomos educados em um ambiente de educação formal (escola) com metodologias que de fato contribuíram para o desenvolvimento de habilidades essenciais para o nosso crescimento humano e profissional.
Mas, será que esse mesmo modelo teria efeito nas crianças das novas gerações?
Para o Professor e Especialista em Psicologia da Educação, Douglas Lopes “As crianças vão adaptar-se a qualquer modelo e educação que estejam inseridas, independente das consequências.”
Mas isso não quer dizer que esse modelo é efetivamente adequado ao seu desenvolvimento e principalmente às questões pedagógicas envolvidas na aprendizagem.
Levando em consideração aos modelos atuais de ensino, a autonomia e a flexibilidade do que é ensinado na escola e de uma prática que esteja mais preocupada com o desenvolvimento de competências para vida são tão importantes quanto o modelo de escolarização que era tido como o “adequado” para nós pais, adultos que experimentamos e conhecemos uma escola relativamente diferente a que nossos filhos e crianças têm atualmente.
No meu tempo não era assim – E as mudanças?
Muitos pais devem se perguntar em relação às mudanças em como ensinar isto ou aquilo.
O modelo de educação formal que conhecemos também causa efeitos sobre a criança e o seu desenvolvimento. Mas não podemos esquecer que a pedagogia é uma ciência que também evoluiu, que se atualizou, assim como toda ciência.
E as necessidades da criança sobre este novo mundo, este novo tempo e todos os estímulos pertencentes a ele, são completamente distintos aos que nossos pais, tios, avós experimentaram.
Para além dessas questões, há grandes diferenças e avanços no ambiente escolar ao longo dos anos: o espaço físico se tornou mais elaborado e projetado para atender demandas específicas, o papel do professor passou de detentor para mediador do conhecimento, o uso da própria tecnologia faz parte da rotina escolar.
Quem não se lembra do cheirinho do álcool nas atividades mimeografadas? Hoje elas deram espaço para smartphones, tablets e computadores com atividades cada vez mais interativas, atualizadas 24 h por dia, conectadas com pessoas e ambientes do mundo todo, tudo na palma da mão.
As crianças, antes mais passivas e com um papel fundamentalmente de ouvintes, passaram a ter papel ativo, assumindo-se como protagonistas, tendo autonomia e contribuindo não só em seu processo de aprendizagem, mas também enriquecendo o processo de seus pares.
Todas essas mudanças refletem diretamente na rotina e metodologias das escolas que, ano após ano, chegam com atividades mais contextualizadas, aulas interativas, uso de metodologias ativas, desenvolvimento de competências socioemocionais e tudo isso com o objetivo não só de trazer conhecimento por meio dos conteúdos para as crianças, mas no desenvolvimento de habilidades que atendam aos desafios da atualidade.
A tecnologia digital faz parte da vida dos estudantes de todos os níveis da educação e não há como voltar nisso.
Até aquelas escolas que ainda resistiam em incorporar tecnologias digitais na sua rotina, forçosamente, precisaram de adequação pelo contexto da pandemia.
O celular que era proibido, transformou-se no meio de comunicação com o professor e a turma, sendo a porta de acesso para as aulas não presenciais. E tem dado certo! Para muitos pais, essas mudanças e certezas ainda não estão muito claras, afinal, tivemos uma concepção muito diferente de educação, entretanto encontramos relatos de muitas escolas que estão desenvolvendo trabalhos com excelentes resultados, sobretudo e essencialmente quando contam com apoio e suporte das famílias.
Desenvolvimento no Ensino Fundamental
Na idade regular do ensino fundamental anos iniciais (6 a 10 anos) as crianças estão em fase de desenvolvimento biopsicossocial e aquisição da escrita, que impede de utilizar de forma autônoma os recursos tecnológicos.
Portanto, o processo de ensino-aprendizagem precisa ter, de um lado, professores preocupados em trazer mais dinamismo para suas aulas, definindo quais conteúdos são prioritários, as melhores atividades a serem abordadas e, principalmente, criar experiências que façam sentido para os estudantes.
Já do outro lado, a família precisa estar comprometida com a supervisão, participação, compreensão e engajamento para o desenvolvimento pleno das crianças.
Acompanhando as tarefas online, os encontros virtuais, perguntando à criança sobre o que está aprendendo, mantendo contato ativo com os professores e a escola, verificando as atividades do livro, do caderno, da plataforma, a assiduidade nos encontros virtuais.
Nesse momento o adulto que acompanha a criança em sua rotina de estudo representa a figura de responsável pelo acompanhamento e realização desta rotina, verificando o desempenho da criança e questionando-a sobre os saberes adquiridos.
De alguma forma os pais, neste momento, ocupam uma parte do serviço pedagógico realizado pelos professores na modalidade presencial, que é o de verificar a participação da criança sobre a rotina de estudos organizada pela escola, e sobretudo, garantir que esta rotina está sendo efetiva e assiduamente executada. Na modalidade remota ressignificam-se os papéis e a família se aproxima ainda mais da criança e de sua vida acadêmica.
Encontramos soluções para o “No meu tempo não era assim”
Então, pensar que “No meu tempo não era assim…” pode ser uma maneira mais rápida de encontrar soluções, mas basta algumas reflexões para percebermos a complexidade do tema.
As crianças do ensino fundamental anos iniciais estão vivendo mudanças importantes em seus processos de desenvolvimento que refletem diretamente nas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo.
Independente da época e das gerações, é essencial termos a clareza que a união e parceria escola-família contribui diretamente para a construção de novas aprendizagens na escola e além dela, incluindo autonomia, desenvoltura, relação com múltiplas linguagens, valorização das diferenças e formas ativas de se relacionar.
Portanto, podemos e devemos atuar em conjunto, pais e escola, para o fortalecimento das falas de ambos e maior organização da vida das crianças.
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