Com o avanço da tecnologia a vida se tornou mais confortável, dinâmica e contraditoriamente complexa. Se por um lado ganhamos facilidades e rapidez em situações que outrora levávamos horas ou dias para executarmos; por outro necessitamos estar mais atentos ao modo como lidamos com as novidades, principalmente quando isso resulta em problemas de saúde ou situações de risco aos nossos familiares mais amados.
Dentre as tecnologias de comunicação, os telefones celulares se transformaram em smartphones e passamos a ter um conjunto de aparelhos como câmera fotográfica, filmadora e computador literalmente em nossas mãos. Além disso, esses verdadeiros sonhos de consumo nos proporcionam, a qualquer hora e lugar, de maneira extremamente prática, acesso à internet e ao seu universo de informação, cultura, entretenimento e redes sociais, que ainda fomentam a criação de novas profissões e serviços. Todavia, junto a esse admirável mundo novo, uma nuvem sombria paira no horizonte azul disseminando distúrbios de ordem física, psicológica, familiar, educacional e social. Em outras palavras, o uso não responsável da tecnologia está contribuindo para o agravamento de problemas de saúde nas pessoas – sobretudo em jovens e crianças – essas sendo precocemente colocadas em contato com aparelhos que emitem luzes e cores prejudiciais a sua sensibilidade visual e aqueles, muitas vezes sem a devida supervisão, ficando expostos aos perigos escondidos na rede mundial de computadores.
Segundo a neuropediatra Liubuana Arantes Regazoni, presidente do Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), “O ideal é que o contato com eletrônicos não aconteça antes dos 2 anos, sobretudo nas duas horas que antecedem o sono e durante as refeições”. Essa recomendação se explica quando a pesquisadora complementa que “até os 2 anos e meio, os bebês não conseguem transferir o que veem na tela para a realidade. Portanto, precisam ser ensinados sobre o que estão assistindo para que associem a experiências reais. É assim que o conhecimento se fixa.” e a melhor forma para auxiliar esse processo de aprendizagem é por meio da interação entre o bebê e a criança e outros seres humanos, usando palavras, toques, brinquedos, músicas e leitura de livros. Assim, as conexões cerebrais são construídas, formando a personalidade e aperfeiçoando a linguagem. Portanto, de acordo com o neuropediatra Erasmo Casella, do Hospital Israelita Albert Einstein, o período de tempo que a criança fica sozinha olhando uma tela não a ajuda a se desenvolver, ocorrendo o oposto, isso “dificulta o desenvolvimento da empatia e do autocontrole e a capacidade de lidar com relacionamentos”. Já conforme o oftalmologista Luiz Eduardo Rebouças de Carvalho, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) “a principal fase que o olho desenvolve vai do nascimento até os três anos. (…) Então, as telas exercem uma influência direta na visão, pois acontece modificação da lente, muda córnea, que é a parte externa do olho, e a interna, que é o cristalino”. Essa problemática tornou-se mais preocupante quando o jornal Folha de Londrina divulgou dados do CBO que mostram que 20% das crianças em idade escolar apresentam algum problema de visão.
Há também outro grave perigo que ronda o uso das tecnologias sem o monitoramento dos adultos e que se camufla nas redes sociais e nos sites de chats e de jogos online: a possibilidade de contato com pedófilos. Um exemplo do que pode acontecer quando crianças e adolescentes se distanciam das relações com familiares e amigos reais, passando horas em redes sociais, é o enredo do filme norte-americano “TRUST” (Confiar), de 2010, estrelado por Liana Liberato. O longa-metragem narra a história de uma adolescente de 14 anos que conhece um garoto pela internet e se apaixona por ele. Aos poucos ela se afasta da família e dos amigos e fica completamente envolvida pelo namorado virtual. O problema é que não se trata de um menino, mas sim de um homem maduro que a atrai para um encontro cujo desfecho resulta em sofrimentos para a menina e uma família destroçada.
Em suma, o uso responsável das tecnologias é muito importante e toda sociedade – família, escola, autoridades públicas e médicas – precisa difundir informação e manter o cuidado com seus bens mais preciosos, as crianças, para lhes proporcionar somente o lado bom dessas poderosas e úteis ferramentas.
Referências:
- Tecnologia na Infância: Qual o Limite – Saúde (Abril)
- Celular ou Computador Prejudica a Visão das Crianças – Folha de Londrina
Professora Lucimara Eshima